quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Uma orquestra no bairro do Coque

Quando sons e sonhos se misturam, o resultado pode ser a inclusão social. Uma orquestra formada por crianças e adolescentes da periferia do Recife comemora um ano de vida transformada pela arte.

Comunidade transformada pela arte

Os caminhos são de lama no bairro do Coque, um dos mais pobres e violentos do Recife.

Aos sete anos, Daniel Mesquita já tem a vida marcada pela violência. “Minha mãe morreu de bala perdida”, ele conta. A avó faz o papel de mãe e concentra todas as esperanças num projeto que transforma meninos em músicos. “Essa orquestra foi uma bênção que veio do céu para mim”, diz a avó de Daniel, Maria do Carmo Mesquita.

É o quartel perto da comunidade que serve de refúgio para os meninos do Coque. A construção da escola de música transformou a rotina dos militares e mudou a vida dos aprendizes. Todo o tempo vago agora é dedicado ás notas musicais.

Filho de desempregados, Fagner Zumba se apaixonou pelo contrabaixo. “Eu espero ser um grande contrabaixista, tocar numa orquestra sinfônica”, conta.

Os instrumentos só descansam na aula de reforço escolar. Foram quatro horas de aula por dia durante um ano inteiro de muito esforço – e para comemorar, um concerto de gala.

Daniel, o caçula da orquestra, veste paletó e gravata pela primeira vez. As meninas também capricham na produção: maquiagem, vestido de festa com laços e fitas.

Quando o show começa, o que se vê é muito mais do que uma orquestra numa noite de gala: o grande espetáculo dos 100 meninos e meninas do bairro do Coque é o da inclusão social, a transformação de vidas com a revelação de novos talentos que dificilmente seriam descobertos.

É uma estréia para guardar para sempre. Os meninos ocupam o Teatro Santa Isabel, o palco mais nobre da cidade. É a maior obra do maestro Cussy Almeida, que há 40 anos forma cidadãos através da música. “Essa experiência para mim foi talvez a maior experiência da minha vida musical, social, como ser humano. Enfim, é uma glória, eu acho”, conta.

O público é surpreendido a cada acorde. Em tão pouco tempo, os meninos já tocam clássicos como o Bolero de Ravel.

E a noite reservava mais emoção: o pequeno Daniel sobe na cadeira e mostra as habilidades de solista. De olhos fechados, ele se deixou levar pela melodia – e o público sonhou junto com o menino.

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