quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Moradia de qualidade

Iniciativa social em Pernambuco substitui barracos em favelas por casas, cujo projeto arquitetônico foi feito por estudantes da UFPE

``Oferecer conforto à população carente, praticar a cidadania e aplicar o aprendizado em uma necessidade real do país´´. Estes são os pontos positivos apresentados pelo professor de arquitetura da UFPE (Universidade Federal do Pernambuco), Luiz de Lamoura, sobre o projeto Habitação Popular, do qual é coordenador. A iniciativa está sendo aplicada em 120 barracos localizadas em nove favelas de Recife, que foram construídos em condições precárias e agora vão ser casas confortáveis.
As plantas da nova habitação estão sendo desenhadas por 30 estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, que atuam como voluntários no projeto. O professor Lamoura, que já conduziu outras iniciativas sociais deste tipo, foi procurado no final de 2000 pela atual administração da prefeitura de Recife para participar deste programa. À época, Lamoura estava implantando na UFPE a matéria de Habitação Popular na grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo. ``Os dois projetos se complementavam. De um lado, pessoas carentes que poderíamos ajudar, de outro, os benefícios proporcionados aos alunos pelo contato com projetos arquitetônicos aplicados em um projeto real. Não tive dúvidas e encarei o desafio´´, conta. O projeto Habitação Popular teve início em julho de 2001.
A prefeitura de Recife destina uma verba de R$ 2.750 para os gastos com materiais de construção da casa que vai substituir o barraco e R$ 690 para os custos com mão-de-obra. Com base neste valor os alunos iniciam o projeto. Antes, porém, eles visitam as famílias escolhidas pelo programa e reúnem informações sobre as condições sociais, demográficas e econômicas do grupo familiar, além de levantar dados sobre o terreno para construção.
Atendimento individualizado - O planejamento da planta do domicílio é feito com base nas necessidades da família. ``Se a família é composta por muitas pessoas, projetamos quartos maiores, caso a moradora cozinhe para fora, elaboramos um espaço maior para a cozinha, sempre de acordo com suas necessidades´´, esclarece Lamoura. Após a finalização da planta, o projeto é enviado para a prefeitura, que se encarrega da construção da casa.
``Quando batemos na porta da residência e comunicamos ao morador que somos de um projeto de melhoria habitacional, que viemos para ajudá-los na construção de sua casa, a primeira reação do morador é dizer que estamos mentindo e que queremos cobrar pelo serviço. Quando explicamos todo o processo, eles ficam emocionados e, neste momento, é difícil conter a emoção´´, conta o voluntário e aluno da UFPE Thiago Monteiro, que aderiu ao programa após conhecer a realidade das moradias das favelas.
Para o Prof. Lamoura, a assessoria feita pelos voluntários nas favelas vem rendendo resultados positivos no cotidiano da comunidade carente. ``Ao darmos atenção especial a estas famílias, elas se sentem mais cidadãs, queridas e, por alguns momentos, menos excluídas´´, diz. ``Além disso, os voluntários vivenciam na prática o que aprendem na sala de aula e isso influencia positivamente no rendimento do aluno.´´
Dia-a-dia - Cada voluntário participa do desenvolvimento de duas plantas, que levam em média cinco semanas para ficarem prontas. Cada projeto aprovado rende ao aluno uma verba de R$ 50, que serve para cobrir as despesas com locomoção, alimentação e fotocópias dos desenhos das casas. Eles também possuem um seguro contra acidentes, pago pela ONG GTZ (Sociedade Alemã de Cooperação Técnica), empresa do Governo Federal da Alemanha que atua em áreas de Cooperação Técnica sem fins lucrativos.
Reuniões semanais são realizadas na casa do Professor Lamoura, onde são debatidos os resultados e os rumos a serem tomados com o projeto. Em um destes encontros, realizado no ano passado, o professor comunicou a sua adesão à greve realizada no momento pelos professores das universidades federais, ``Os alunos se assustaram com a notícia e ficaram muito preocupados com os habitantes que estavam sendo beneficiados pelo projeto. Percebi, neste momento, que o projeto era algo muito importante na vida destes jovens e decidi continuar coordenando o projeto da minha própria casa.´´
Além da consciência social, um concurso está estimulando os voluntários a participar do programa. Os dois melhores projetos arquitetônicos, selecionados por profissionais da área de arquitetura do CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), por professores, representantes da prefeitura e da GTZ. ``Realizamos um verdadeiro `carnaval´ para a entrega da premiação de R$ 300 para cada um dos vencedores. O reitor da Universidade, os alunos e representantes do movimento dos sem-teto em Recife participam da festa de entrega´´, comemora Lamoura.
Dos 120 projetos arquitetônicos previstos inicialmente, a metade já foi entregue. A construção das casas será dividida em três fases, com 40 novas casas a cada etapa. A primeira está prevista para começar no final deste ano. O projeto está tendo inclusive repercussão internacional. Em junho deste ano o projeto da UFPE participou de um congresso internacional realizado em Cuba, que tinha como tema ``Habitação Popular e Interesse Social´´. O Congresso teve a participação de várias instituições de ensino superior da América Latina.


Publicado em 04/10/2002 - 02:00


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