30.11.2006 :: 11h28
RIO DE JANEIRO - A iniciativa pessoal de um professor de Educação Física da Zona Oeste do Rio de Janeiro tinha o objetivo de tirar crianças carentes das ruas e orientá-las para o esporte. Passados 24 anos, a iniciativa cresceu e foi reconhecida pela comunidade esportiva internacional. O trabalho comunitário do professor Paulo Servo da Costa, na Escola Municipal Silveira Sampaio, em Curicica, no Rio, será reconhecido no próximo dia 12 de dezembro, no Teatro Municipal do Rio, durante o Prêmio Brasil Olímpico. Por indicação do Comitê Olímpico Brasileiro, Paulo Servo receberá o Troféu Esporte e Comunidade, oferecido pelo Comitê Olímpico Internacional.
Paulo transformou uma praça pública de Curicica em um verdadeiro centro de treinamento de atletismo, com pista de corrida e caixa de areia para saltos. O Projeto Lançar-se para o Futuro conta com cerca de 500 crianças e jovens de comunidades carentes dispostas a treinar atletismo, mas também com o sonho de alcançar uma posição de destaque na sociedade civil. "Jamais imaginei que esse trabalho fosse algum dia refletir no Comitê Olímpico Internacional. O reconhecimento do COI é uma honra muito grande e um incentivo para todos que realizam trabalhos sociais ligados ao esporte. Esse prêmio me dá mais força para continuar esse projeto maravilhoso, que só me enche de orgulho e que ajuda tanta gente".
A Escola Municipal Silveira Sampaio recebe por dia, em sua clínica de atletismo, cerca de 500 crianças e jovens de 9 a 15 anos. Eles vêm de bairros pobres do Rio de Janeiro e a maioria dos alunos é do sexo feminino. A escolinha oferece às crianças alimentação diária, atendimento médico, dentário, nutricionista e material esportivo para as competições. O trabalho social da escola chamou atenção de uma ONG suíça, que oferece ajuda de custo para os atletas da equipe, e da Olympikus, patrocinadora e fornecedora oficial de materiais esportivos do Comitê Olímpico Brasileiro, que doou sapatilhas para os atletas, pois antes corriam descalços.
A dedicação do professor Paulo ao projeto é tanta que ele quebrou as paredes de sua casa para construir o refeitório, onde alimenta cerca de 100 crianças por dia. "Começamos em 1982 fazendo corridas ecológicas, sem nenhum tipo de ajuda e grandes pretensões, apenas tirar as crianças da ociosidade. A nova direção da escola e os pais começaram a apoiar nossa idéia. Treinávamos no chão de barro, descalços, sem nenhuma estrutura. Não havia recursos, mesmo assim levávamos as crianças para competições", conta o professor, de 68 anos e 48 de profissão.
Paulo Servo avalia a importância da inserção social através do esporte. "O trabalho comunitário vem como resposta da consciência de que é preciso fazer algo em prol da juventude e da criança. Quando me aposentei, vi que todas aquelas crianças e jovens que praticavam esporte no Núcleo de Esporte da Escola iriam ficar sem atendimento. O bairro não oferece opções de lazer como cinemas, clubes, teatros, bibliotecas e fatalmente acabariam ficando a mercê dos perigos das ruas, na ociosidade, alvos de toda espécie de influência negativa. Sendo assim, dei continuidade ao trabalho de atletismo e, dentro de um universo de aproximadamente 500 jovens de 2005 para cá, tenho um saldo de 0% de uso de drogas e de gravidez na adolescência.
Além disso desenvolvem responsabilidade, respeito, disciplina e aprendem a estabelecer objetivos para suas vidas com a elevação da auto-estima. Estamos formando cidadãos. Isso reflete na formação de uma sociedade mais justa e equilibrada, constituída por pessoas conscientes dos seus direitos e deveres. Tenho vários exemplos de pessoas que passaram pelo atletismo e hoje são profissionais em outras áreas, mas que conseguiram tudo isso através do esporte", comenta.
O trabalho de Paulo na Escola Silveira Sampaio é destaque também nas competições que participa. A Escola Silveira Sampaio atualmente é uma das grandes forças do atletismo carioca, revelando talentos que possivelmente despontarão no cenário esportivo nacional. Para as competições oficiais são realizadas seletivas internas para definir os melhores tempos. O sonho de Paulo é classificar atletas para os Jogos Olímpicos de Londres 2010. A maior promessa da equipe é Barbara Leôncio, de 15 anos. A jovem possui o melhor tempo do mundo na categoria infanto-juvenil nos 100m rasos, com 11s62. No Troféu Brasil deste ano, Barbara ficou na quarta colocação na final adulta dos 100m rasos.
Fonte: http://www.theresacatharinacampos.com/comp2000.htm
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