sábado, 8 de setembro de 2007

Lixo por água

Latas de alumínio e garrafas de plástico viram moeda de troca numa campanha de preservação do meio ambiente. O Programa Vale-Água, lançado pela Copasa, no aglomerado Santa Lúcia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, alcançará, numa primeira etapa, pelo menos 30 mil pessoas. O consumidor que entregar produtos recicláveis na agência da empresa que atende a comunidade ganha desconto na conta de água. Até o fim do ano, o projeto de redução dos poluentes em rios e córregos será estendido a outras áreas carentes da capital e do interior.

Logo cedo, no lançamento do projeto, as ruas do Morro do Papagaio, um dos núcleos do Santa Lúcia, foram invadidas por fanfarras e grupo de teatro, com lições de educação ambiental, para mudar a rotina da aposentada Maria Júlia Campelo, de 80 anos, e de seus 20 netos e bisnetos. Moradora do aglomerado há mais de 40 anos, ela não perdeu tempo e fez as contas na ponta do lápis. “Mandei a família toda juntar latinhas e garrafas pet, que estavam espalhadas no quintal e na rua. Conseguimos quase meio quilo de alumínio e mais de dois quilos de plástico. Mesmo não sendo muito, essa economia de R$ 1,52 vai ajudar a pagar a conta”, diz.

Na troca dos recicláveis na agência de atendimento da Rua São Tomás de Aquino, 473, a Copasa paga pelo material o valor de mercado. Para um quilo de alumínio (pouco mais de 60 latinhas), o desconto é de R$ 2,90; para um quilo de plástico (26 garrafas de dois litros), abatimento de R$ 0,17 na conta de água. A embalagem plástica, para ser aceita, deve ter, em sua base, o símbolo da reciclagem – um triângulo formado por três setas, com o número 1 ou a palavra pet no centro. Para as latas, não há restrições.

Consciência
“Maria Fofoqueira” e “Seu Zé”, personagens do Grupo do Beco, subiram o Morro do Papagaio à frente da banda Arautos do Gueto, que animou a manhã com instrumentos musicais feitos de materiais reutilizados. Panfletos, com o slogan “Vale-Água. Preservar o meio ambiente é um bom negócio”, foram distribuídos nas mais de 5 mil casas do Santa Lúcia. “O trabalho de recolher latas e garrafas já é feito no morro como forma de subsistência de muitas famílias. Vamos mostrar à comunidade que a atividade é importante também para a preservação do meio ambiente. Com o tempo, as pessoas terão consciência de que é preciso cuidar da natureza como se zela pela própria casa”, afirma o coordenador do Grupo do Beco, Nil César, que representou o “Seu Zé”.

Além do desconto na conta de água, a Copasa espera que o projeto ajude a reduzir a poluição em rios e córregos. “Qualquer morador do aglomerado pode participar e não depende do tipo de imóvel. Pode ser comercial, residencial ou igreja. O incentivo é importante, porque 60% dos moradores estão incluídos na tarifa social da empresa e pagam o valor mínimo. Com a diminuição do lixo no meio ambiente, será possível evitar enchentes, entupimento de redes e acúmulo de produtos não biodegradáveis na natureza. O projeto-piloto foi implantado no Santa Lúcia por ser o único aglomerado de BH com a agência de atendimento da empresa. E a expansão da iniciativa só depende do aperfeiçoamento e das alterações a serem feitas”, diz o presidente da Copasa, Márcio Nunes.

Mesmo sem estimativa do volume de material que será arrecadado mensalmente, o apoio da comunidade ao projeto está garantido. “Pago entre R$ 15 e R$ 20 pela água e o desconto pode me ajudar a comprar até uma cesta básica no fim do ano. Vou pedir ajuda aos meus filhos, porque é de centavo em centavo que consigo fazer economia”, diz a dona-de-casa Jocelina da Silva, de 71.

Reaproveitamento
Iniciativas como essa ajudam a manter o Brasil como campeão mundial de reciclagem de alumínio, com um índice de 96,2% de reaproveitamento do metal, segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas). E se as latinhas lideram o ranking, a reutilização das garrafas pet ainda tem muito o que avançar. No ano passado, não ultrapassou a média de 47%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do pet (Abipet).

Dos 9,6 bilhões de latas de alumínio produzidas em 2005, apenas 3,8% continuaram no mercado transformadas em artesanato e utensílios domésticos ou foram descartadas na natureza, onde demoram mais de 40 anos para se decompor. As garrafas pet, embalagem de quase 70% dos refrigerantes produzidos no país, ainda são pouco reaproveitadas. No ano passado, a reciclagem de 167 mil toneladas do plástico não representou nem 50% do volume produzido no Brasil.


Fonte: Jornal Estado de Minas - MG

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